Deus colocou a eternidade em nossos corações. Ele gravou o céu em nossas almas. Ele nos criou para ansiar por um mundo perfeito e para desejar o que é ideal. Queremos ser total e finalmente livres do sofrimento e miséria deste mundo e, ao final, até de nosso pecado – não só da convicção e da tristeza que nosso pecado nos traz, mas também da dor e do sofrimento que ele traz para as pessoas mais próximas a nós.

Como criaturas redimidas e, ao mesmo tempo, decaídas deste mundo decadente, desejamos desesperadamente nos livrar de nosso pecado e de suas consequências. Queremos ser menos orgulhosos, menos impacientes, menos tristes, menos preocupados, menos sobrecarregados; e queremos ser mais santos, mais inclinados ao arrependimento e à oração, mais tranquilos e mais satisfeitos. Cada um de nós é, como Martinho Lutero ensinou, “simul justus et peccator”: ao mesmo tempo, justo e pecador. Em Cristo, Deus nos declarou justos, embora nós ainda nos esforcemos todos os dias para mortificar o pecado em nossa carne. Mas haverá um dia em que não vamos mais lutar, um dia em que a nossa fé se transformará em capacidade de ver, um dia em que veremos a Cristo face a face; em que não desejaremos, não necessitaremos e em que não careceremos mais de contentamento.

Mas no presente vemos como que por espelho, em enigma, enquanto aguardamos as gloriosas moradas que Cristo nos está preparando nos novos céus e na nova terra, nos quais habita a justiça. (2 Pedro 3:13). Embora continuemos sempre a ansiar pelo paraíso, Deus nos chama a viver contentes em qualquer situação em que nos encontremos por Sua providência soberana (Filipenses 4:11). Ele nos conclama a manter nossas vidas livres do amor ao dinheiro e a nos contentarmos com o que temos.

Deus não apenas nos diz para nos sentirmos satisfeitos, mas também graciosamente nos dá a razão para nos contentarmos, lembrando-nos de Sua promessa: “[…] Não te deixarei, nem te desampararei” (Hebreus 13:5). Esta é o fundamento para o verdadeiro e duradouro contentamento. É precisamente porque o Senhor é o nosso pastor que nada nos faltará. Mas se Ele não é o seu Pastor, não espere ter contentamento. O verdadeiro contentamento não é circunstancial, é relacional. Não é baseado no que nos acontece; ao contrário, é baseado nAquele que nos redimiu: Aquele que habita em nós. Se nosso contentamento é baseado apenas no que temos, vamos sempre desejar mais; mas quando ele é baseado em quem somos em Cristo, vamos, antes de qualquer coisa, desejar conhecê-Lo mais. Pois, se devemos encontrar contentamento em todas as coisas, devemos buscar contentamento no único que pode cumprir todos os nossos desejos: Jesus Cristo.

Unidos a Cristo, crescemos na graça e no conhecimento de Cristo e, assim, crescemos mais e mais desejosos do que Cristo quer e cada vez menos desejosos do que Cristo odeia. Quando crescemos na graça, o Espírito Santo não põe um fim aos nossos desejos. Pelo contrário, Ele renova nossas mentes e transforma nossos desejos em conformidade com os desejos de Deus para nós. Em essência, o contentamento é querer o que Deus quer para nós, e o que Ele quer para nós é Ele mesmo. É por isso que o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre (BCW 1). Glorificamos a Deus ao máximo quando desfrutamos ao máximo do que Ele nos criou para desejar: Ele mesmo.

Originalmente publicado em Ligonier.org. 

Traduzido por Karine Cunha de Souza