Pastores não devem considerar a oposição como algo estranho ou anormal. Faz parte do pacote. Basta ler as epístolas Paulinas e Joaninas para ver a oposição emergindo nas igrejas do primeiro século (por exemplo, 1Co 1.10-17; 2Co 10-13; Gl 1.6-2.14; Fp 3.17-19; 2Jo 7-11; 3Jo 9-10). O mesmo continua hoje em dia.

Certa vez, sem que eu tivesse conhecimento, um membro descontente da comunidade enviou cartas fazendo acusações duras contra três membros da igreja. No domingo seguinte, o meu sermão, providencialmente, pareceu dirigir-se precisamente ao conteúdo das cartas. Após o culto da manhã, um dos destinatários resmungou a outros que eu havia sido o remetente.

Em um outro domingo, quando estava explicando a razão de pregar expositivamente, usando 2Tm 4.1-5, um importante professor de escola dominical saiu desaforadamente no meio do sermão. Ele deu a conhecer sua oposição.

A questão que enfrentei nessas e em outras situações é como lidar com a oposição e continuar a exercer um ministério pastoral fiel. Estas seis considerações podem ser úteis.

1. Seja um Homem de Oração

A oposição é uma guerra espiritual. Embora vindo de formas variadas, a oposição é uma questão espiritual, pois envolve a igreja local, sua unidade, seu testemunho, e fidelidade ao senhorio de Cristo.

A exortação de Paulo em Ef 6.10-20 apropriadamente conclama pastores e congregações a “serem fortes no Senhor e na força do seu poder” e a revestirem-se da armadura de Deus (v. 10-11). Encoraja os cristãos a travarem a guerra com “toda a oração e súplica”, orando “em todo o tempo no Espírito” (v. 18). Como John Stott observou, a oração “é para permear toda a nossa guerra espiritual”. A oração por sabedoria, discernimento, poder, humildade, clareza, e graça deve acompanhar qualquer pensamento de confrontar oposição.

2. Caminhe em Humildade

O apelo à humildade reflete a vida de Jesus (Mt 11.29). Ele sabia quando confrontar e quando manter-se em silêncio.

Com humildade, o pastor reconhece a verdade sobre si próprio e sobre Deus e não as confunde. Ele compreende que só Deus pode mudar corações. A humildade sabe que apesar de sua capacidade de persuasão, outra pessoa pode persuadir pelo contrário. Há que abordar a oposição com a consciência profunda de que necessita ser simplesmente um vaso que o Senhor pode usar, e não o herói capaz de resolver um conflito da igreja.

3. Mantenha o Coração Santificado

Poucas coisas podem ser pior do que um pastor enfurecido e amargurado tentando lidar com a oposição de um membro da igreja. Uma caminhada espiritual empobrecida deixa rastros na sua esteira. Antes de confrontar a oposição, o pastor precisa saber que lidou com as suas atitudes pecaminosas e sentimentos amargos, perdoando os que se opõem (Ef 4.29-5.2) e andando diligentemente na vontade do Senhor e na plenitude do Espírito (Ef 5.15-21).

Examine seu coração antes de dar o primeiro passo para lidar com a oposição. Às vezes, o maior problema não está nos outros.

4. Busque Discernimento se Deve Deixar para Lá ou Confrontar

Se alguém fizer um comentário pungente ou falso, o pastor necessita decidir se este é:

  • Um instrumento para o tornar mais humilde para confiar mais no Senhor
  • Um infeliz mal-entendido
  • Algo injusto mas pelo qual não vale a pena arriscar um relacionamento
  • Um assunto que afeta a unidade da igreja e a mensagem do Evangelho.

Muitas vezes, os pequenos golpes nos calcanhares ou nas canelas não merecem que gastemos tempo a tentar desvendar quem disse o quê e porquê. A menos que isso afete a unidade da igreja, o testemunho do Evangelho, o culto coletivo, a política da igreja relativa a membros e à liderança, ou a missão, talvez não haja necessidade de confrontação.

Mas se a questão da oposição chegar a este ponto, o pastor deve incluir pelo menos um outro ancião (de preferência que não seja assalariado da igreja) para se juntar a ele na conversa cara-a-cara. Estes homens necessitam orar e refletir sobre a forma como irão lidar com a situação, cobrando-se mutuamente para que a humildade, a gentileza e o amor acompanhem a sua conversa e o seu proceder.

5. Continue a Pregar a Palavra de Deus

Somente em circunstâncias extremas um pastor deve mudar a sua série de sermões expositivos para abordar publicamente a oposição. Ele não deve dar lugar a acusações de abuso do ofício pastoral para atacar outra pessoa, a fim de se justificar perante a oposição. A ministração regular da Palavra deve manter-se como prioridade para o pastor.

O Espírito Santo opera através da pregação da Palavra para realizar muito mais do que um pastor jamais conseguirá saber, mesmo em meio a oposição.

6. Deixe o Assunto nas Mãos de Deus

Quando o pastor tem orado, abordado a situação com humildade, preparado seu coração perante Deus, e discernido a melhor maneira de agir ou de permanecer em silêncio, ele deve confiar a oposição e os seus efeitos perturbadores às mãos de Deus. O Senhor tem amplo poder para operar na situação que tem causado tanta angústia.

Quatro considerações relacionadas com a oposição e a mão suprema de Deus em ação podem oferecer ao pastor encorajamento quando passar por tais momentos:

  1. O Senhor pode estar podando o pastor e/ou a igreja
  2. O Senhor pode estar ensinando o pastor a depender dele
  3. O Senhor pode estar expondo erros e iniquidade na igreja
  4. O Senhor pode estar preparando o cenário para futuras mudanças na igreja que expandirão o testemunho do Evangelho e o seu ministério.

Pastores e igrejas devem ter a expectativa de que a oposição vá surgir de tempos em tempos, devido à sua natureza como conflito espiritual. Em última análise, porém, necessitamos aprender a confiar no Senhor quando há oposição bem como aprender as lições que ele quer nos ensinar—tanto pastores quanto congregações—através destes desafios relacionais.

Traduzido por Cynthia Costa.